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JULLIE VEIGA
( Brasil – MARANHÃO )
Natural de São Luís, Maranhão.
Poeta, escritora, antologista, organizadora de atividades literárias. Publicando em antologias e coletâneas, com participação em 46 obras, entre livros e revistas, nacionais e internacionais. É idealizadora e coordenadora da coletânea “Elas e as Letras”, com escritoras nacionais espalhadas pelo mundo.
CEM POEMAS CEM MIL SONHOS; homenagem aos 50 anos da Passeata dos Cem Mil: maior manifestação popular contra a Ditadura Militar no país. Organização: por Rodrigo Starling. Entrevista com Vladimir Palmeira. Belo Horizonte: Starling, 2018. 176 p. 14 x 20 cm. Capa: Jackson Abacatu. N. 09 814
Exemplar da biblioteca de ANTONIO MIRANDA
MORDIDA DE SILÊNCIO
A incansável boca do silêncio
Mordeu-me feroz... Mordida de silêncio
É coisa — calada — que entontece
Nem sempre doída
Que chega sem avisar
E vai sequestrando as falas
Mordida de silêncio é coisa quieta
Mora nas observâncias
Cede espaços para o nada
E nada posso fazer
Mordida de silêncio
É coisa quase imparável
Quão demasiada
Atando-me nós
Mordida de silêncio
É coisa também cinza
— e, às vezes, nada cortês —
Cruzando as pinturas do meu dia
Através [até] das passagens secretas
Mordida de silêncio
É coisa que sempre existe
Enche de bloqueios e inquietação
Mas forja paciência
Mordida de silêncio
É coisa que sábia
A mim me guarda mudez
Mordida de silêncio
É coisa que pode machucar quem escreve
Deixando as palavras párias
E apinhadas
Pois represam-se e não escapam
Mordida de silêncio
É coisa que nos pode tocar aturdida
Com as mãos trêmulas
Das já letras desvanecidas
É coisa que ninguém sabe quando vem
Mas percebe quando está
POEMA DE EXÍLIO
Muitas anestesias nessas longas horas
Para romper-me, agora
Numa poetização urgente
Dum lado, palavras emugrecidas
Do outro, palavras me espicaçando e aturdindo
Nas travessias pelas alfândegas
Abriram espaços
Legitimando o meu pulsar
Noutras terras
Um reviramento
Bem intenso demais
Dessas letras tantas
Abrigadas nos silêncios meus
Às vezes, meu exílio
Às vezes, uma quase morte
Mas volto escrevendo
E sempre que escrevo, vivo mais um pouco
*
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Página publicada em maio de 2025.
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